segunda-feira, 19 de outubro de 2015

"Tava só esperando ele meter a mão nela pra chegar lá"


Estava perto do farol da barra ontem a noite, por volta das 20:30 e escutei uns gritos de mulher, de primeira achei que fosse no mar, já que é comum as pessoas ficarem por lá brincando. Depois continuei escutando e identifiquei "você tá me machucando", fui na janela novamente e lá estava um homem alto e aparentemente "forte" segurando uma mulher mais magra e menor que ele pelo pulso e braço. Meus olhos não acreditaram naquilo, dei um grito da janela " ô rapaz ", mas não foi o suficiente para mais de meia duzia de outros homens que estavam dividindo a mesma calçada da cena e os que estavam de passagem, se manifestarem. Desci imediatamente para intervir e ajudar a mulher que estava chorando inclusive. Cheguei perto e disse " Largue ela agora! " Ele virou me pegou pelos braços muito forte e disse que eu era uma estranha e que não entendia o que estava acontecendo. Eu olhei nos olhos dele, mesmo ele desviando o olhar, e mandei ele me soltar. Ele frouxou as mãos mas continuou tentando me explicar que ela era namorada dele e que sempre fazia isso, me empurrando...Eu disse que não importava o motivo e que ele ia deixar ela ir pra casa pra depois conversarem. Claro que naquele momento eu fiquei com vontade de dá um murro na cara dele, mas tentei ser o mais inteligente possível, mesmo porque eu não sabia do que era capaz o sujeito, mas já nesse momento meu companheiro e outro homem estavam intervindo. A menina agredida continuou chorando e eu fui atrás dela para tentar de alguma forma assistência-la. Me disse que havia batido a cabeça, que ele a deixou sozinha por meia hora e que agora tava querendo que ela acreditasse em alguma coisa, não entendi direito a história, mas não podia segurá-la. Apenas disse pra ela tentar se acalmar e ir pra casa, não deu tempo nem de oferecer um táxi porque enquanto ela corria pra outra direção, dois policiais chegaram altamente despreparados puxando arma(símbolo máximo da IMPOTÊNCIA militar) na minha e na frente de todos que estavam por perto, colocando nossa segurança em risco. Então fui me afastando e perdi a moça de vista. Saí esbravejando que precisava eu sozinha descer e separar o cara da menina, que o que eles acreditam ser masculinidade não existe e não serve para absolutamente NADA! Fiquei observando de longe e logo depois que o cara falou algumas palavras eles o liberaram e nem foram atrás da vítima confirmar ou assistência-la, ainda que minimamente, era obrigação deles!!!! Acredito que esse "casal" estava acompanhado de alguns amigos que apareceram depois, mas até o homem que tentou ajudar quando eu intervi disse: "tava só esperando ele meter a mão nela pra chegar lá". COMO ASSIM? Eu entendo as mulheres terem medo de se posicionarem em uma cena como essa, mesmo porque somos ensinadas e coagidas a acreditar que somos fracas e frágeis, mas vários homens juntos não se importam nem pra dizer "ô cara, relaxa.." e só ajudam quando aparece um roxo no olho, uma costela fraturada, é isso? O resto todo não é violência? É tranquilo ainda né, afinal, em briga de marido e mulher não se mete a colher. Eu tenho nojo do homem que agrediu a menina, assim como tenho nojo de todos aqueles que não mexeram e nunca mexem um dedo para diminuir a estatística de violência contra mulher no Brasil. Se não há lugares seguros nem pra gente transitar sem sermos assediadas e ameaçadas por estes homens, se não há lugar seguro para nós, mulheres, não haverá lugar seguro para vocês nos violentarem mais também!! Vou me meter, iremos nos meter, porque o problema é NOSSO. Não tenho medo de homem impotente!! Sempre tento ser estrategista e pacifica nos meus dias, nas inúmeras conversas que tenho com os que acham que estão me elogiando na rua, simplesmente não abaixo mais minha cabeça. Não abaixem a cabeça de vocês também! Não me peçam pra ter cuidado, nem me ofereçam méritos, fiz o que tinha que ser feito, o mínimo. Prefiro sair apanhada do que deixar uma irmã ser violentada na minha frente e não fazer nada.
Seguimos.

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